Hummmmmmmm.

A palavra DELÍCIA foi inventada pra definir essa música. Em 1969 um desavisado andava pela rua – os desavisados sempre estão andando pela rua, você nunca vai encontrar um desavisado fazendo outra coisa senão andar pela rua, essa é a vida deles, é assim que eles ganham o sucrilhos nosso (deles) de cada dia, sendo figurantes de vidas mais importantes, como a minha, por exemplo. Tenho um monte de figurantes. Meu chefe, por exemplo, é um figurante chato que fica tentando arrumar pelo menos um papel de coadjuvante, vai, por favor – ouvindo o seu Ipod quando começou essa música. Tá, eu sei que vocês se perderam com a minha digressão, vou dar um tempo pra vocês se encontrarem e vou começar de novo, dessa vez sem interrupções.

Um desavisado, em 1969, andava pela rua com o seu Ipod quando começou a tocar essa música. Instantaneamente do cérebro dele sumiram todas as palavras, a não ser delícia. Uma CORNUCÓPIA de delícias com todos os tipos de vozes e sotaques. A mais comum era uma delícia precedida por um hummmmm e com uma entonação a mais radiofônica possível. Além disso, duas vértebras da costela dele se deram conta de que já não eram mais úteis e foram embora, de mala e cálcio e imediatamente a pélvis passou a comandar o ato de caminhar. Pra cada passo, uma balançadinha delícia no quadril. E assim ele virou o cara mais sexy do Oregon. Mas só por dois minutos e dezesseis segundos. Ele acordou assim que a música acabou, mas já era tarde. Duas loiras estavam enroladas no pescoço dele e uma morena chamada Brunette escalava lânguidamente suas pernas. Um lingüista inescrupuloso que passava pelo local viu a cena e anotou no seu caderninho: delícia.