Sobre quando você tem que desistir porque ela não gostou de Interpol - ou o triste fato de que você vai morrer sem ouvir aquela música do jens lekman
Aí que eu gostava de ficar no sofá, de cabeça pra baixo. E morria de medo de fantasmas. Coisa de menino viado. A primeira vez que dormi sozinho naquela casa mediocremente enorme vi milhares deles. Quebrei um copo na manhã seguinte, tamanho o desespero pra escapar daquela porra de casa mal assombrada. Eu sempre chorava quando quebrava copos, mas nesse dia não chorei. Tava mais preocupado com os malditos fantasmas. Maldita casa das janelas verdes, cheia de mofo. Isso era no tempo que eu batia punhetas pra Priscilla da TV Colosso.
Legal mesmo era ver aquele japonês escroto abrindo uma lata de pomarola, virá-la sobre o macarrão frio e mandar pra dentro. Assim, sem esquentar mesmo. Tinha um gosto terrivelmente apurado. Ouvia cantores cubanos-professores-de-física-foragidos-nos-eua. Coisa fina. E quando acordava, às apalpadas procurava uma lata de skol embaixo da cama; mas às vezes achava uma chícara de café com cinzas de cigarro; e mandava pra dentro. Isso era nos idos de 99. O pavement devia estar no quadragésimo álbum e eu ouvindo música broxa. Tem dessas coisas.
Eu era apaixonado pela irmã daquela menininha zarolha. A mesma menininha zarolha que me deu a primeira cola (acho que a única), na quarta série: “Qual o antônimo de primeiro’? “Segundo”! Santa estupidez. Sim, a irmã. Feia como ela só, pelo menos uns 18 anos mais velha, e eu ainda sem pentelhos no saco, mas apaixonadasso.
E então o japonês escroto – ele usava uns dreads, sim, japonês de dreads, e fumava maconha – inventou de sair correndo pelado madrugada adentro, pela L2 Norte. E teve a vez em que a gente jogou baseball com pães de queijo, na mesma L2, na mesma madrugada cheirando a Legião Urbana de Brasília. Acertávamos os dentes da candidata a qualquer coisa, sorrindo um sorriso de merda amarela naquele outdoor. Home run. Mas o negócio é que o japonês entendia das coisas. Ele dormia, cabelo sem lavar há pelo menos uns quinhentos anos, numa cama-tábua, onde havia um espaço já desenhado do corpo dele em meio a cabides, cobras, cd’s – milhares deles – latas de cerveja vazias, xícaras de café com cinza e – a obra de arte mor – uma enorme tigela onde cultivava todas as guimbas e cinzas desde a chegada ao Brasil. Ele entendia das coisas. É, entendia sim.
'e era preciso respeitar o acordo tácito de gozar no pijaminha e não ficar de pau duro na frente das visitas': ooh la - the kooks
2 Comments:
puta quio pariu libertino.
ps: "Isso era no tempo que eu batia punhetas pra Priscilla da TV Colosso."
hauhauahauhauauahauahauhaua... ai ai.
é, entende sim.
:)
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